O coronavírus ou Covid- 19, vírus que bateu nas portas da humanidade por volta do final de 2019 e que se alastrou no início de 2020, causando pânico por boa parte do mundo, derrubando bolsas de valores, fechando empresas, limitando contato social e, infelizmente, ceifando vidas, impõe necessariamente, algumas reflexões:
Será que precisamos de um ritmo tão acelerado de vida?
Será que é possível viver sob o aspecto material de forma mais simples?
Será que estamos ultrapassando alguns limites da natureza?
Muito mais do que o aspecto da letalidade do vírus, é preciso ligar-se em pontos um pouco mais profundos da existência humana, e que as respostas dadas às perguntas acima podem ajudar-nos neste aprofundamento.
Entretanto, muito mais do que responder as questões acima, uma certeza se impôs de maneira irrefutável, óbvia, mas que passa, quase sempre, despercebida por nós:
A fragilidade da vida física num mundo de provas e expiações.
Esta é a certeza que muitos não querem entender, talvez, por isso, se viva de forma tão intensa a vida da matéria esquecendo que ela – a vida material – pode findar-se por conta de um ser invisível aos nossos olhos, aqui, no caso, o coronavírus.
Esta pandemia traznos justamente a fragilidade humana, ou seja, a vida pode acabar em segundos.
Esta realidade perturbadora não quer ser vivida, então surge o pânico, o medo exacerbado de perder a vida orgânica.
Kardec e os bons Espíritos, entretanto, ao trazerem a ideia da imortalidade da alma colocam a vida material não como protagonista, mas, sim, como coadjuvante no processo de progresso do Espírito imortal. E, diga-se, coadjuvante não quer dizer sem importância, porém que há algo além desta vida física que existe e preexiste a ela, e que é a vida do espírito que não se finda, não se acaba, não se curva nem ao temido coronavírus.
Agora me apoio em O Livro dos Espíritos, “Lei de Destruição” para que possamos compreender um pouco mais sobre aquilo que os Espíritos denominaram de “flagelos destruidores”.
As questões que tratam dos flagelos destruidores estão compostas no intervalo que vai da questão 737 até a 741. Kardec tenta compreender as razões pelas quais a humanidade, vez ou outra, é visitada por epidemias ou outros transtornos que lhes abala as estruturas físicas, orgânicas e psíquicas.
Para os bons Espíritos, os flagelos, e eis aqui o coronavírus, são necessários para fazer a humanidade progredir mais depressa.
Vejamos:
Jogue esta afirmação em sua vida e verifique, em suas lembranças, se as fases difíceis de sua vida o deixou, após o enfrentamento, mais forte ou mais fraco.
Recordo-me de um pensamento de Chico Xavier que trarei aqui com minhas palavras, mas sem destruir a essência. Diz Chico que agradeceu as dificuldades que teve na vida, pois foram elas que o fizeram progredir. O pensamento de Chico é semelhante ao que disseram os Espíritos a Kardec.
Mas, prossigamos com Kardec, pois ele objetiva saber se Deus, já que é tão bondoso, não teria meios mais suaves para promover o avanço dos seres humanos.
Os Espíritos dizem a Kardec que Deus faz isso todo tempo, e é a cegueira orgulhosa do homem que o impede de ver os meios mais suaves empregados para o progresso.
O fundamental é progredir moralmente para avançar na hierarquia dos mundos, abandonando, então, a categoria de expiação e provas, pois mundos que estão neste degrau necessitam, por conta do tal orgulho de seus habitantes, de alguns empurrões mais fortes das leis naturais.
Ora, então, qual o meio de progredir ? Os próprios Espíritos dizem que é conhecendo o bem e o mal para distinguir joio e trigo. Esta é a ideia: usar a inteligência para fazer o bem e elevar-se a um mundo cujo perfil não seja semelhante ao de prova e expiação.
Talvez o leitor (a) esteja espantado (a) e pergunte: “não há na Terra boas pessoas e que não merecem passar por essas epidemias e todo esse sofrimento?”
Eis aqui mais uma prova do protagonismo da vida espiritual diante da existência material. Como já dissemos por tanto , aquilo que consideramos s e r uma tragédia, no caso aqui a morte de pessoas boas, para os Espíritos é tão somente a destruição do corpo físico, o que não corresponde, nem de longe, a condição de Espírito, posto que este é imortal.
Para Deus, aliás, pouco importa se o Espírito está desencarnado ou encarnado, pois seu amor abraça a todos sem distinção. E isto é uma ideia extremamente consoladora, porque mostra que nada é mais forte do que a vida que se desenrola tanto aqui quanto no além-túmulo e segue obedecendo as mesmas leis naturais instituídas por Deus.
Kardec , ainda no tópico flagelos destruidores, tenta aprofundar-se um pouco mais.
A ideia de Kardec é saber se diante de uma pandemia, ou qualquer outro nome deste gênero, existem injustiçados. Os Espíritos, porém , não caem em contradição e reafirmam que mesmo na ocorrência da morte, essa existência é para o espírito que desencarna apenas um ponto diante do infinito.
Para analogia, ainda que pobre, vá ao quadro negro, aquele de professor, e faça um pequeno ponto branco. Após isto, olhe para o quadro e veja que o ponto representa pouquíssima coisa. Pois assim é nossa existência diante das inúmeras outras que virão, um pequeno ponto desenhado num imenso quadro.
Os Espíritos querem sempre reforçar o olhar macro, abrangente no que concerne nossa vida. Um homem mais evoluído, portanto, não verá na morte o sinônimo da destruição, mas apenas uma mudança de condição espiritual, saindo da categoria de encarnado para entrar no time daqueles que vestem o uniforme da imortalidade.
Vale registrar, também, um importante comentário que Kardec traz ao final do tema flagelos destruidores:
Kardec fala da utilização da inteligência como um meio de prevenir, ou, ainda, vencer o flagelo destruidor.
O homem tem , portanto, na ciência que estuda as leis da matéria todas as condições de sair vitorioso na luta contra um flagelo que atualmente poderíamos chamar de Covid- 19.
E ao colocar os óculos do futuro Kardec informa que o homem ao utilizar a inteligência pode preservar-se, e se a esta inteligência unir-se o sentimento de caridade, o homem poderá beneficiar a si e ao semelhante.
Nada diferente da realidade que vivemos hoje, que traz a importância da higiene e dos cuidados pessoais para preservar a nós, e o isolamento social, num gesto de renúncia, porquanto fomos criados para viver em sociedade e rodeado de nossos afetos, em benefício do bem coletivo
E , por falar em isolamento, Kardec trata na Revista Espírita, julho de 1867, deste assunto por causa de uma epidemia que ocorreu em Ilhas Maurício. Uma febre acometeu boa parte da população daquela ilha que, no século XIX, sem os recursos de hoje, teve muita gente que foi a óbito pela epidemia. O correspondente de Kardec em Ilhas Maurício escreve dizendo que o grupo espírita já estava disperso há 3 meses por causa da epidemia.
Alguma semelhança com o momento presente?
Em tempos de epidemia os grupos espíritas também se isolaram, mas percebemos que, mesmo à distância e com recursos limitados, os colegas espíritas da Ilhas Maurício seguiram correspondendo-se com a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
Contudo, hoje temos meios muito mais avançados de interagir e estudar do que os colegas do século XIX. O estudo do passado ajuda a espantar o desânimo pelo afastamento de nossos grupos, pois mostra que atualmente, não obstante à pandemia que atravessamos, ainda podemos gozar dos benefícios produzidos pela inteligência humana.
Portanto, espíritas… alegrai—vos! Esta fase há de passar breve… Muito breve…
Por: Welligton Balbo